quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ler, pesquisa e publicar em fontes digitais

Por Renata Maria


O texto eletrônico pode dar realidade aos sonhos, sempre inacabados, de totalização do saber que o precedeu. Tal como a biblioteca de Alexandria, ele promete a universal disponibilidade de todos os textos escritos, de todos os livros publicados. Como a prática de lugares comuns à Renascença, ele chama a colaboração do leitor que pode, a partir de agora, escrever no próprio livro, portanto, na biblioteca sem muro da escrita eletrônica.” (CHARTIER, 2004, p. 3).

Acessar os dados da internet demanda, evidentemente, que não nos precipitemos rumo a uma navegação cega, desprovida de critérios e análises, onde a inconsistência dos achados poderá por um fim à materialidade das nossas pretensões e possibilidades. O cotejamento na leitura, pesquisa e publicação constitui a base sólida da investigação, esculpe o seu caráter científico e projeta no rol das produções mais uma fonte para circular entre os pares, estruturando esse sistema de socialização do conhecimento.

Contudo, é preciso admitir a existência de regiões abissais, com dados transvestidos (de verdade ou de mentira) degradando a qualidade das nossas projeções de leitura, pesquisa e publicação, quando enveredamos pela pesquisa em fontes digitais. Afinal, essa franca evolução do acesso à informação é depositária, também, de uma série de riscos, aos quais não estamos tão expostos(as) quando manipulamos e garimpamos outras mídias (jornais, revistas, livros, enciclopédias, dicionários).

Sobre esse assunto já sinalizava Wolton (2003, p. 87), ao afirmar que: “O acesso a ‘toda e qualquer informação’ não substitui a competência prévia, para saber qual informação procurar e que uso fazer desta. O acesso direto não suprime a hierarquia do saber e do conhecimento“.

Aferir a ambivalência entre fontes fidedignas ou não, requer um olhar capaz de identificar as rotas onde fecunda o verdadeiro conhecimento. A leitura e a pesquisa na internet supõem, portanto, uma articulação dialética e dialógica entre conhecimento prévio, fidedignidade da fonte e o cotejamento com outras mídias. Portanto: “[...] precisamos dominar a tecnologia para que, além de buscarmos informação, sejamos capaz de extrair conhecimento” (PEREIRA, 2007, p. 17).

Sobretudo, é preciso compreender que:

O conhecimento não viaja pela internet. Construí-lo é uma tarefa complexa, para a qual não basta criar condições de acesso à informação. Hoje, para poder extrair a informação útil do crescente oceano de dados acessível na Internet, exige-se um conhecimento básico do tema investigado, assim como estratégias e referenciais que permitam identificar quais fontes são confiáveis. Por outro lado, não devemos esquecer que, para transformar a informação em conhecimento, exige-se – mais que qualquer outra coisa – pensamento lógico raciocínio e juízo crítico (MARTÍNEZ, 2004, p. 96)

No entanto, preterir os documentos impressos em detrimento do surgimento da internet significa entregar-se ao furor da novidade, abdicando das possibilidades depositadas nas demais tecnologias. A internet pode, decisivamente, vir a colaborar, todavia, sucesso ou fracasso dever-se-á aos que se dedicam a garimpá-la e utilizá-la.

Nos alerta Mattar (2005, p. 141), que:

A tecnologia da informação permite-nos rapidez e precisão muito grande para acessarmos, sintetizarmos e analisarmos a informação”. O que requer aptidão para agir com destreza sobre elas. Eis um cenário de liberdade e igualdade perante as informações, onde cada cidadão pode acessá-las para conhecê-las e intervir por meio delas. E ainda: “a maneira de construir a informação, de a apresentar, de prever os meios de acessá-la, não é universal, ela está ligada aos esquemas culturais.

A partir dessas colocações é importante salientar que para muitos o processo de pesquisa na internet ainda é hermético, onde é preciso tempo, inclinação e habilidade, pois os meios tradicionais de acessar as informações não abarcam a demanda e necessidade de apropriação dessa base de dados. Nesta linha de pensamento está Lombardi & Saviani (2005, p. 234), pois esses nos dizem que graças ao nível de desenvolvimento da sociedade atual surge a necessidade de se alcançar “[...] um acervo mínimo de conhecimentos sistemáticos sem o que não se pode ser cidadão, isto é, não se pode participar ativamente da vida da sociedade”.

As mudanças são cada vez mais velozes, as verdades não mais absolutas e o impacto na vida dos indivíduos e na sociedade, cada vez maiores. O epicentro da revolução – e evolução - no convívio entre o homem e a informação digital é o lugar da pesquisa, da exploração e da perícia na manipulação dos dados.

REFERENCIAL TEÓRICO

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP, 2004.

LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Dermeval (Orgs.). Marxismo e educação: debates contemporâneos. Campinas: Autores Associados, 2005.

MARTÍNEZ, Jorge H. G. Novas tecnologias e o desafio da educação. In: TEDESCO, Juan Carlos (Org.). Educação e novas tecnologias: esperança ou incerteza?. Trad. de Claudia Berliner, Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Cortez, 2004

MATTAR, João. Metodologia científica na era da informática. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

PEREIRA, João Thomaz. Educação e sociedade da informação. In: COSCARELLI, Carla; RIBEIRO, Ana Elisa (Orgs.). Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

WOLTON, Dominique. Internet, e depois?: Uma teoria crítica das novas mídias. Porto Alegre: Sulina, 2003.

* Texto originalmente publicado nos Anais do EDaPECI 2011.

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