sábado, 29 de maio de 2010

Bibliotecas Físicas e Digitais

Na concepção de Milanesi (1994), a biblioteca é um antídoto ao dogmatismo por oferecer informações sem censura, pois, ainda segundo ele, o acesso livre à informação é não limitá-la ao professor nem aos livros, e sim concebê-la como em perene desdobramento e constante reescritura.
Por Miranda (1980) a biblioteca é uma célula “viva” única e que precisa ser útil para receber apoio, estima e prestígio, ou do contrário será percebida pela sociedade como um óvni. Decorridos muitos anos, não a concebemos de outro modo senão como um espaço vivo com a missão de superar a aculturação nas suas diversas faces e múltiplas instâncias.
Desde outrora, a função plena exercida pela biblioteca a reafirma como núcleo da informação e, portanto, espaço fecundo de investigação. Designações essas que corroboram com a sua imanente relação com as novas formas de se produzir e reproduzir informações. O computador, por exemplo, reforçou a dinâmica da leitura e da pesquisa. Hoje, sabemos mais sem sequer sairmos do lugar, mas nem sempre o que ficamos sabendo por vias tecnológicas representa fielmente a realidade que buscamos investigar.
O professor, imbuído da tarefa de educar, porém preso às amarras do ensino tecnicista do qual provém, por questões de (desin) formação, negligencia, muitas vezes, a utilização de tecnologias subtraindo de si e dos seus alunos grandes oportunidades de (in) formação através delas.
Entretanto não é cabível generalizar, pois pesquisas mais profundas, sem dúvida nos apresentariam iniciativas/casos de sucesso, sem contar que o problema pode estar na própria tecnologia como a baixa conexão ou até mesmo na parte técnica que são computadores com defeito e no número insuficiente de máquinas para realizar as atividades.
Em consonância com o apelo para inclusão digital, surgem os apelos para alfabetização digital e/ou letramento digital. Todos esses processos correspondem à busca pela superação de um fosso existente entre a tecnologia e a sociedade. Surgem, pois, as bibliotecas digitais, com os seus acervos digitalizados que promulgam informações seguras e organizadas, diferindo-se das diversas fontes – não tão idôneas ou nada idôneas - normalmente encontradas na internet, e propiciam o sucesso da pesquisa. Pois, de acordo com Grossi (2009), ao contrário do que muitos ainda insistem pregar quando afirmam que o acesso às máquinas desde cedo lhes garante saber o que fazer, é preocupante a vertiginosa vulnerabilidade da base de informações e da formação crítica para a leitura e pesquisa em ambientes virtuais.
Para aclarar esse conceito é importante trazer à tona as palavras do mesmo autor, quando este afirma que:

(...) há cinco pontos essenciais a considerar antes de colocar a garotada na frente da tela: compreender que a busca na rede é uma prática social de leitura, tomar consciência de que a máquina deve ser usada ao nosso favor, aprender a escolher os sites que têm o que se procura, saber selecionar informações confiáveis e entender o peso da imagem no processo. (GROSSI, 2009, p.94)

Com essas idéias corrobora Vianna (2005, p.38), quando diz textualmente que “(...) a internet não é como uma biblioteca convencional: é um espaço cibernético onde as informações não são selecionadas como ocorre nas bibliotecas”.
Segundo Chartier (2004), as mudanças na forma de apresentação do livro, ocorridas nas diferentes fases de sua história, ocasionaram três grandes revoluções: do texto manuscrito em rolo de pergaminho para o códice, formato semelhante ao livro moderno impresso; do códice ao livro impresso e do livro impresso ao eletrônico.
Considerado um grande teórico no assunto, o autor supra citado, por amiúde continua desvelando essa mudança paradigmática ao asseverar que:
"O texto eletrônico pode dar realidade aos sonhos, sempre inacabados, de totalização do saber que o precedeu. Tal como a biblioteca de Alexandria, ele promete a universal disponibilidade de todos os textos escritos, de todos os livros publicados. Como a prática de lugares comuns à Renascença, ele chama a colaboração do leitor que pode, a partir de agora, escrever no próprio livro, portanto, na biblioteca sem muro da escrita eletrônica” (CHARTIER, 2004, p. 3).

Drabenstott e Burman (1997), também compartilham da mesma opinião. De acordo com eles o livro e produções computadorizadas coexistirão por muitos anos. Bibliotecas continuarão a acrescentar novos processos tecnológicos, sem, entretanto substituí-los completamente pelos existentes. O grande problema será o gerenciamento simultâneo dos formatos informacionais com os das novas tecnologias.
Entretanto, esse avanço no qual a humanidade está imersa, não incorrerá na sobreposição de invenções, ou seja, as Bibliotecas físicas e os seus livros impressos – dentre outros documentos -, palpáveis, continuam elementares, porém, ao aderirmos à digitalização tendemos a afinarmo-nos com o sonho da democratização do acesso à informação.
Vergueiro (1997, p. 96), salienta ainda “que as tecnologias computacionais, ao invés de prejudicar a produção de livros, tornaram-na pelo contrário, mais eficiente”. Assim sendo, podemos constatar que a convivência com o impresso e o virtual/digital, é perfeitamente coerente, visto que existem preferências às duas formas de acesso, sem contar que grande parte da informação que as pessoas buscam nas bibliotecas, [...] ainda não está disponível por via eletrônica ou talvez jamais venha a ser considerada como prioritária para realização dessa transferência. Por exemplo, informação histórica, [...] de interesse local, ainda está disponível, em sua maioria, apenas em formato impresso.
Faria Fh (2000) colabora com o assunto quando afirma que a biblioteca virtual destina-se a uma comunidade que não se define geograficamente, sendo reunida pela informação e comunicação. Mas ela não está dada à priori, e, portanto devem-se buscar modos de atingir a comunidade que se quer construir.
Retomando os notáveis princípios de Milanesi (1994, p.15), ele nos diz que “a ciência é cumulativa e a biblioteca tem a função de preservar a memória – como se ela fosse o cérebro da humanidade -, organizando a informação para que todo ser humano possa usufruí-la”. Esse é também o momento histórico da biblioteca, que com maestria busca atender social, cultural e intelectualmente aquele que insuflou-lhe a vida, o atual “ciber-homem”.

REFERENCIAL

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP, 2004.

DRABENSTOTT, K.; BURNAN, C. M. Revisão analítica da biblioteca do futuro. Revista Ciência da Informação, Brasília, v. 26, n.2, p. 180-194, jun. 1997.

FARIA FH, Luciano Mendes de (Org.). Arquivos, fontes e novas tecnologias: questões para a história da educação. Campinas: Autores Associados, 2000.

GROSSI, Gabriel Pillar. Pesquisa didática: as buscas na internet. Revista Nova Escola, n. 222, p. 94/95, maio 2009.

MILANESI, Luis. O que é biblioteca. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

MIRANDA, Antonio. Estruturas de informação e análise conjuntural. Brasília: Thesaurus, 1980.

VERGUEIRO, W.C.S. O futuro das bibliotecas e o desenvolvimento de coleções: perspectivas de atuação para uma realidade em efervescência. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v.2, n.1, p.93-107, jul./dez. 1997.

VIANNA, Márcia Milton. A internet na biblioteca escolar. In CAMPELLO, Bernadete S. et. al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

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